O mestre Wolf Maya concedeu uma entrevista para a repórter Eliana Silva de Souza do jornal Estadão, na qual o nosso professor falou sobre a novela Fina Estampa – da qual dirigiu e atuou- que está sendo reprisada agora pela Globo, e também sobre a importância da parceria com o autor Aguinaldo Silva.
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Longe da TV desde 2016, quando encerrou sua ligação contratual com a Globo após mais de 30 anos de trabalho, Wolf Maya pode ser visto agora na reprise da novela Fina Estampa, escrita por Aguinaldo Silva, uma das tramas que dirigiu, que voltou ao ar recentemente e que vem conquistando novamente o público no horário das 9 – o folhetim bateu a marca de 37 pontos já na primeira semana, tanto no Rio quanto em São Paulo. Além de ter o nome ligado ao comando da novela, o diretor também surge como ator, integrando o elenco ao lado de Totia Meirelles, que interpreta sua mulher na trama, entre outros nomes, como Lília Cabral, Christiane Torloni, Marcelo Serrado e Dalton Vigh.
Maya lembra com muito carinho do folhetim, que foi ao ar originalmente em 2011, e brinca dizendo que rever Fina Estampa agora é como reencontrar um filho que você abandonou e não o via desde que tinha um ano de idade, revendo-o muito tempo depois, já com dez anos. “Eu consigo localizar ali dentro todas as ideias, pois tem meu DNA e o do Aguinaldo Silva.” Aliás, esse encontro com o autor foi um momento marcante em sua trajetória, que Maya define como uma “reviravolta” para os dois. Primeiro, porque Aguinaldo era um “autor regional, que fazia projetos com foco no Nordeste”. Esse trabalho em conjunto teve início com um dos maiores marcos da teledramaturgia, Senhora do Destino, e, a partir desse encontro, Maya conta que “trouxe ele (Aguinaldo) para a cidade grande – foi uma novidade na carreira dele, na minha também, foi um casamento lindo”. O diretor ressalta que, depois do estrondoso sucesso de Senhora do Destino, os dois continuaram com essa dobradinha em outras novelas de destaque, das quais a última foi exatamente Fina Estampa, que ele sinaliza como a que selou em definitivo esse encontro e que conseguiu ocupar o horário nobre.
Segundo Maya, em conversa por telefone com o Estadão, a novela nasceu para trazer uma pitada de humor em uma faixa habitualmente destinada às histórias mais densas, aos dramas. À medida que se recorda, Maya detalha o momento em que uma trama bem-humorada foi parar no horário nobre da emissora, algo totalmente impensável até então. “Consegui implantar Fina Estampa, que era uma novela leve, como uma comédia americana, sofisticada, com personagens como o Crô (Marcelo Serrado), Teresa Cristina (Christiane Torloni), a própria Griselda (Lília Cabral), figuras criadas com tintas grossas, mas de forma proposital”, relembra o diretor, destacando que a novela até apostava no hiper-realismo, revelando-se um tanto alegórica. “Agora, vejo que, dez anos depois, ela continua batendo audiência, com números inacreditáveis.”
Aos 66 anos, Wolf Maya entrou na Globo nos anos 1980, e lá ficou por mais de três décadas. E essa saída foi o marco do fim de uma fase de sua vida – o trabalho realizado durante todo esse tempo foi de muita transformação, para ele e para a emissora. “Faço parte de uma geração que transformou a TV, de jovens que vieram de outras áreas: eu, Guel Arraes, Luiz Fernando Carvalho, Jorge Fernando, que deram uma revirada na televisão. Isso foi muito bom.”
E foi nesse período dentro da emissora que Wolf conta ter sentido a necessidade de criar um centro de formação de atores. Mas o custo seria muito alto para a empresa, pois teria de montar dentro das suas instalações, com todos os equipamentos necessários, pessoal, algo que não fazia parte dos planos da Globo. “Eu notava que havia pouca formação dramática na área, mas que também não havia como essas escolas funcionarem dentro da indústria. Restava, portanto, o estudo do teatro, fosse o tradicional, o clássico ou musical”, conta ele, constatando a inexistência de um curso específico para o aluno aprender em estúdio, fazer edição, descobrir o tempo de câmera, tempo dramático, planos de enquadramento, marcações.
Foi quando teve a ideia de montar uma escola de teatro que servisse esse mercado. Apesar do complicado momento da pandemia, Maya revela-se um otimista – a situação não abalou seus projetos e ele continua a dar aula, agora online. Com duas escolas, no Rio e em São Paulo, onde a primeira foi aberta, o diretor mostra que é possível seguir em frente e se adaptar aos novos tempos. “É uma experiência completamente diferente e nova para nós, mas estamos conseguindo preparar o roteiro de um filme, com cada um em sua casa gravando com os celulares”, conta, explicando que a gravação tem de ser feita com uma parede branca de fundo. Depois, o diretor repassa as cenas para um técnico, que une todas e daí surge a obra. “A gente consegue realizar o trabalho, que funciona perfeitamente como processo de ensaio.” Para ele, quando as aulas presenciais forem retomadas, seja em data que for, o processo não terá sido interrompido. “Foi muito feliz essa ideia, e está dando certo.”
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